domingo, 7 de outubro de 2012

Vamos todos celebrar!

Todos generosamente convidados para a festa da democracia! E nela, para alguns poucos mais cheios de fé, haverá um momento de idílio e maior entorpecimento dos seus sentidos. Haverá também um reforçamento de suas crenças em seu significado. A materialização das suas vãs esperanças (ou senso de oportunidade) nos truques mágicos de seus prediletos e já eleitos prestidigitadores e bem travestidos bufões e palhaços. Sejam eles ingênuos ou sub-reptícios.

Também há uma imensa multidão, que em romaria, obnubilada e arrastada por poderosos grilhões imaginários cumpre o protocolo da passiva e, portanto necessariamente bem educada e tradicional cooperação dormente. Plasmado está o temor inconsciente da vigilância do deus pai encarnado em democratura e professado por escolhidos intermediários.

Carrascos infelizes de si próprios! Essa festa, cuja música é um misto de repetidas e hipnóticas canções absurdamente patéticas, que com rimas pobres e recursos performáticos sofisticados pelas décadas de espetáculo produzido-ensaiado-exibido, tem a função de nos lembrar da geral obrigação de sermos também, repetitivos e patéticos.

Nessa festa, celebramos o tão honesto ímpeto dos que vão nos tratar e tentar domar diariamente, pondo-nos nas nossas jaulas já invisíveis aos olhos embotados da massa acrítica. Sempre através de também invisíveis roubos legítimos dos aspectos relevantes de nossas vidas-cidadãs e liberdades humanas, ora, através de convenientes formalidades burocráticas. Administrando miséria em variadas doses, doces ilusões de virtudes e possibilidades, entendimento comum em frágeis crenças pré-fabricadas.
Essa festa, tão cuidadosamente organizada, cheira a sangue, suplanta a existência da indigência no perceber coletivo. Apoia-se numa história de horror sistematicamente ignorado, maquiado, escamoteado.

Controle e ambição por controle; essa festa conta com o nosso silêncio medroso e eventuais resmungos abatidos, prontamente abafados pela imensidão da inércia do espírito público dos seus convidados.

E nessa festa, não somos sequer melhor tratados que os porcos ou gado humano que somos, que sem saída, silenciosamente encontra-se com a anulação de si mesmo no fim do túnel, onde a frágil carne da humanidade se rasga e sangra fluida feito a liquidez, advento irretorquível da pós-modernidade ainda pouco compreendida, pois é feita de confusão.

Nessa festa somos os produtos voluntários, os criados subservientes, bem como o opulento banquete pútrido dos que vão nos cevar e cevar com indiferente autoridade, migalhas e irrelevâncias práticas, numa manutenção subliminar-angustiosa até uma próxima e similar ocasião.

O relógio bate o tempo ágil deste dia santo. Ecoam aplausos cerimoniosos no fim da tarde...
Guerra é paz, escravidão é liberdade, ignorância é força. O grande irmão sorri satisfeito.
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“Ah”, disse o rato, “o mundo torna-se a cada dia mais estreito. A princípio era tão vasto que me dava medo, eu continuava correndo e me sentia feliz com o fato de que finalmente via à distância, à direita e à esquerda, as paredes, mas essas longas paredes convergem tão depressa uma para a outra, que já estou no último quarto e lá no canto fica a ratoeira para a qual eu corro.” ― “Você só precisa mudar de direção”, disse o gato e devorou-o.
 

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